Comunicação Vetada
Ser-lhe-á possível, meu irmão, entender-se por mim com os nossos orientadores quanto à possibilidade de me comunicar diretamente com a minha filha, presente à reunião? Estou certa de que, com a permissão devida, nossa Isabel me atenderá a angústia materna.”[1] Esse foi o pedido feito por uma senhora desencarnada a Isidoro, o marido já falecido de dona Isabel, que supervisionava as atividades espirituais em seu antigo lar. Tal solicitação é totalmente compreensível: uma mãe angustiada no plano espiritual querendo muito se comunicar com a filha que ainda se encontrava na dimensão física. Tal cenário deve ser mais comum do que imaginamos, pois basta ver os inúmeros casos semelhantes que fervilham em livros mediúnicos. Aliás, não seria esse um dos principais objetivos da mediunidade? Colocar em contato direto seres cujos laços de afeição permanecem após a morte?
É claro que, em circunstâncias absolutamente equilibradas, nas quais tanto o desencarnado quanto o encarnado apresentem harmonia e estabilidade emocional, merecimento, e desde que exista um propósito verdadeiramente útil, esse tipo de comunicação poderia ser realizada sem maiores problemas. Todavia, nem sempre é assim que acontece. Em muitas situações, o comunicante não possui as condições ideais ou, às vezes, é o estado do companheiro que ainda vive na carne que não lhe permite receber as mensagens do Mais Alto. Além disso, não podemos nos esquecer de três fatores imprescindíveis na comunicação mediúnica: o mérito, a necessidade e a utilidade do intercâmbio.
Diante do pedido daquela senhora, Isidoro, que tinha o desejo profundo de lhe ser útil, conversou com o instrutor espiritual mais graduado da reunião e, logo depois, um tanto quanto constrangido, trouxe para nossa irmã uma resposta surpreendente: “Minha irmã, o nosso nobre Anselmo não julga viável o seu pedido. Asseverou que sua filhinha ainda não está em condições de receber essa bênção. Ela tem necessidade de testemunhar, agora, o que aprendeu do seu exemplo, no mundo, e precisa permanecer no campo da oportunidade, sem repousar indevidamente nos seus braços. (…) Não somente por isso, minha amiga, nosso instrutor se vê forçado a desatender. A medida traria inconveniente grave para o seu sentimento maternal. No estado evolutivo em que se encontra, e considerando o velho hábito adquirido, a filhinha se agarraria excessivamente ao seu auxílio. Prender-se-ia à mãezinha afetuosa e sensível, e talvez a irmã se visse perturbada em sua nova carreira espiritual. Ela precisa estar mais livre para testemunhar, enquanto o seu coração deve permanecer em liberdade, por nobre merecimento conquistado ao preço do seu suor e lágrimas, quando na Terra. Considerando, embora, o caráter sagrado do amor em sua feição maternal, nossos orientadores não podem conceder à sua filha o direito de perturbá-la. Compreende? Não se atormente com esta impossibilidade transitória. Lembre-se de que todos somos filhos de Deus. O Senhor terá recursos para atender à jovem, em seu lugar. Quanto ao mais, alegremo-nos em nossos serviços. Recorde que o auxílio não se verificará pelo processo direto, mas podemos recorrer ao método indireto. Quem sabe? Amanhã, possivelmente, poderá encontrar-se com sua filha, em sonho.” [1]
Isso explica o motivo de inúmeras vezes não sermos atendidos em nossos mais profundos desejos de obter mensagens de entes queridos desencarnados. Como aprendemos acima, comunicações são vetadas pelos mentores simplesmente porque seriam prejudiciais aos envolvidos. A separação das criaturas, embora temporária, é necessária. No caso em estudo, aquele era o momento em que a filha encarnada precisaria crescer, caminhar com as próprias pernas, sem se abrigar demasiadamente na mãe. Se o intercâmbio mediúnico ocorresse, ela veria nesse fenômeno uma oportunidade de sempre buscar o auxílio da genitora, deixando de se esforçar e progredir na senda evolutiva. Começava uma nova etapa em sua vida, na qual ela deveria exemplificar o que aprendeu com a mãe. Era hora do testemunho. Por outro lado, tudo isso poderia causar graves perturbações à senhora desencarnada que, simplesmente por ter atravessado o véu da morte não deixou de ser mãe amorosa e velosa. Por essas razões, o veto naquele instante era o mais sábio a ser feito, pois acima de qualquer coisa, aquela filha era, antes de tudo, filha de Deus, o Pai que nunca nos desampara.
Mas resta ainda uma lição, não menos importante: quando pautamos nossas atitudes no amor, absolutamente nada fica perdido, nada fica sem resposta. Isidoro salienta que o impedimento se refere apenas ao contato direto. Porém, em função do enorme amor maternal daquela senhora, poderiam recorrer ao procedimento indireto, através do qual é possível que encarnados e desencarnados se encontrem por meio dos sonhos.
Valdir Pedrosa
[1] Os Mensageiros – Pelo Espírito André Luiz, psicografado por
Francisco Cândido Xavier – capítulo 47 (No trabalho ativo)
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